quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tempo

Dia desses me vi frente a frente com o futuro, personificado por um passado glorioso e um presente nebuloso.
O tempo tem dessas coisas, traz em seu bojo, todos os dias, todas as noites, um átimo de segundo, uma hora inteira.
Ele, implacável, insiste em marcar, rasurar ou arranhar a ilusão de eternidade. Vai mostrando na pele, nos músculos, no poder da visão que ele passa, que ele não para.
Vez ou outra avisa – estou aqui, estou ali, bem ao alcance de qualquer um. Feliz daquele que o percebe e vive, seja correndo, palmeando, rindo ou chorando, mas vive este inexorável.
Toco suas mãos, beijo seu rosto, sinto no lábio a secura da pele. Miro os olhos na procura do viço, na busca do outrora. Encontro o tempo, com ele a sagacidade dos que souberam vivê-lo.
Admirada vejo o futuro de cada um, o meu mais precisamente.
A mão insegura tateia meu braço buscando apoio. O sorriso marca iluminando o que resta de contorno.
Viajo no azul do olhar e esbarro no passado conhecido. Plena me alegro, todo velho porta a criança que um dia foi.
O tempo passa, mas não apaga, feliz daquele que o reconhece e vive.

Suely Marques
abril de 2009